quarta-feira, 28 de abril de 2010

Capítulo VI - Desaparecimento



Caminhei pelas ruas e vielas que me faziam cortar caminho para chegar mais rápido ao parque. Senti meus pés fumegarem quando comecei a avistar a grama rasteira e verde que cobria todo aquele lugar. Não tinha mudado nada desde o dia em que conheci Ricardo, mesmo bancos, mesma barraca de Hot-Dogs porém ele não estava ali como aquele dia. Me sentei no banco no qual me fazia ter visão de todo parque e procurei inconstante tentando ver aquele rosto conhecido e angelical escondido atrás de uma árvore ou alguma revista em quadrinhos. Estiquei meu pescoço até senti-lo doer e então desisti, largando-me no banco de madeira deixei meus pensamentos flutuarem por alguns lugares distantes. Me permiti sair do foco daqueles dias, deixei Fernando e Ricardo de lado e fechei os olhos para ouvir o canto dos pássaros e sentir a brisa fresca tocar meu rosto como se estivesse recebendo um carinho do próprio ambiente no qual estava.
Vários minutos se passaram e então minha mente voltou ao assunto central. Ricardo ainda não havia chego mesmo sendo ele quem marcou o encontro. Algo poderia ter acontecido a ele. Decidi então comprar um suco para passar o tempo e esperar mais um pouco. 
Observei atentamente duas crianças brincarem nos brinquedos coloridos. Elas pareciam tão felizes e sem preocupações, como se tudo aquilo em volta delas não passasse de uma simples brincadeira em que todos jogavam como pedrinhas sobrepostas em um tabuleiro no qual somente elas podiam movimentar. Era lindo ver que pelo menos algumas pessoas no mundo, por mais pequenas e infantis que fossem pudessem felizes e sem preocupações. Senti uma longa sensação de paz tomar conta de mim. Levantei do banco no qual estava sentada tomando o grande suco de abacaxi com hortelã e sem seguida pus a mão no bolso tirando novamente aquele pequeno papel com o endereço que o próprio Ricardo tinha anotado poucos dias atrás. Sai caminhando novamente pelas ruas observando pouco os detalhes agora, somente olhando de relance para algumas coisas nas quais me chamavam a atenção. Finalmente cheguei a pequena porém imponente avenida na qual encontrava-se a casa com o mais delicioso cheiro de café do mundo. Parei em frente ao Nº 13 e toquei a campainha um pouco mais confiante do que da última vez na qual tinha feito o mesmo. A porta se abriu e saiu então uma mulher, um pouco velha por sinal, já com cabelos brancos e um pijama rosa-chá feito de pano flanela, mas ela ao contrário de músicas 'velhas' andava perfeitamente bem e com um certo charme.


- Boa tarde senhora. Ricardo está?
A moça torceu o nariz numa expressão que indicava não estar entendendo o que eu dizia. Talvez ela tivesse problemas de surdez e não ouvira direito o que tinha dito, então repeti.
- Boa tarde, o Ricardo se encontra?
- Eu ouvi você na primeira vez que disse minha jovem - disse ela com uma voz bastante forte para sua idade - Mas não mora ninguém que se chame Ricardo nessa casa.


Paralisei e em seguida olhei para o papel com o endereço conferindo para ver se era o mesmo número da casa. E estava certo. Eu estava na Avenida Sherman Nunes em frente ao Nº 13. Eu estive ali uma noite atrás era impossível estar errado.


- É... Desculpe, mas, eu estive aqui ontem, aliás eu entrei ai ontem com um menino chamado Ricardo - apontei para a porta de madeira além do grande portão preto - E tinha uma mulher, a mãe dele, ela se chamava Agnes. 
- Minha querida, eu me chamo Constance e nunca nenhuma mulher chamada Agnes, nem um homem chamado Ricardo moraram aqui. Talvez tenha errado.
- Mas senhora - peguei o papel e coloquei na mão enrugada da senhora - leia, o endereço está certo. E veja, há o nome do menino no final.
- Não há nada aqui. Somente o nome da avenida. Mais nada!
- Impossível - Peguei o papel novamente e olhei para ele. De fato não havia nada ali, somente o nome da avenida e mais nada. Fitei o papel por mais alguns segundos e então falei por fim. - Me desculpe senhora, acho que realmente me equivoquei.


Dando as costas para a senhora com pijama sai correndo para os portões centrais da avenida e sai na rua principal. Eu só queria chegar em casa. A cada passo dado era uma olhada dada também no papel. Era impossível, a poucos minutos estava tudo ali. O endereço completo, o recado, a assinatura de Ricardo no fim. Estaria eu louca? Será que a noite anterior fora só um sonho e nunca aquilo teria acontecido de verdade? Essa possibilidade era ainda mais improvável ainda.
Chegando em meu quarto retirei os sapatos nos quais joguei para um canto junto com minha pequena bolsa de contas na qual só havia o troco da suco comprado no parque.
Me deitei em minha cama enterrando minha cabeça nos travesseiros que cobriam toda a extensão. Chorei por diversos minutos, e então senti um vento quente cortar minhas costas. Levantei dos travesseiros e olhei a janela, mas esta estava fechada e então, em cima da minha mesa havia uma pena, branca como a neve no inverno europeu, perfeita e na ponta um pequeno pedaço de papel amassado com somente uma palavra. 
"Desculpe"

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Soundtrack CAP VI
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