quarta-feira, 28 de abril de 2010

Capítulo VI - Desaparecimento



Caminhei pelas ruas e vielas que me faziam cortar caminho para chegar mais rápido ao parque. Senti meus pés fumegarem quando comecei a avistar a grama rasteira e verde que cobria todo aquele lugar. Não tinha mudado nada desde o dia em que conheci Ricardo, mesmo bancos, mesma barraca de Hot-Dogs porém ele não estava ali como aquele dia. Me sentei no banco no qual me fazia ter visão de todo parque e procurei inconstante tentando ver aquele rosto conhecido e angelical escondido atrás de uma árvore ou alguma revista em quadrinhos. Estiquei meu pescoço até senti-lo doer e então desisti, largando-me no banco de madeira deixei meus pensamentos flutuarem por alguns lugares distantes. Me permiti sair do foco daqueles dias, deixei Fernando e Ricardo de lado e fechei os olhos para ouvir o canto dos pássaros e sentir a brisa fresca tocar meu rosto como se estivesse recebendo um carinho do próprio ambiente no qual estava.
Vários minutos se passaram e então minha mente voltou ao assunto central. Ricardo ainda não havia chego mesmo sendo ele quem marcou o encontro. Algo poderia ter acontecido a ele. Decidi então comprar um suco para passar o tempo e esperar mais um pouco. 
Observei atentamente duas crianças brincarem nos brinquedos coloridos. Elas pareciam tão felizes e sem preocupações, como se tudo aquilo em volta delas não passasse de uma simples brincadeira em que todos jogavam como pedrinhas sobrepostas em um tabuleiro no qual somente elas podiam movimentar. Era lindo ver que pelo menos algumas pessoas no mundo, por mais pequenas e infantis que fossem pudessem felizes e sem preocupações. Senti uma longa sensação de paz tomar conta de mim. Levantei do banco no qual estava sentada tomando o grande suco de abacaxi com hortelã e sem seguida pus a mão no bolso tirando novamente aquele pequeno papel com o endereço que o próprio Ricardo tinha anotado poucos dias atrás. Sai caminhando novamente pelas ruas observando pouco os detalhes agora, somente olhando de relance para algumas coisas nas quais me chamavam a atenção. Finalmente cheguei a pequena porém imponente avenida na qual encontrava-se a casa com o mais delicioso cheiro de café do mundo. Parei em frente ao Nº 13 e toquei a campainha um pouco mais confiante do que da última vez na qual tinha feito o mesmo. A porta se abriu e saiu então uma mulher, um pouco velha por sinal, já com cabelos brancos e um pijama rosa-chá feito de pano flanela, mas ela ao contrário de músicas 'velhas' andava perfeitamente bem e com um certo charme.


- Boa tarde senhora. Ricardo está?
A moça torceu o nariz numa expressão que indicava não estar entendendo o que eu dizia. Talvez ela tivesse problemas de surdez e não ouvira direito o que tinha dito, então repeti.
- Boa tarde, o Ricardo se encontra?
- Eu ouvi você na primeira vez que disse minha jovem - disse ela com uma voz bastante forte para sua idade - Mas não mora ninguém que se chame Ricardo nessa casa.


Paralisei e em seguida olhei para o papel com o endereço conferindo para ver se era o mesmo número da casa. E estava certo. Eu estava na Avenida Sherman Nunes em frente ao Nº 13. Eu estive ali uma noite atrás era impossível estar errado.


- É... Desculpe, mas, eu estive aqui ontem, aliás eu entrei ai ontem com um menino chamado Ricardo - apontei para a porta de madeira além do grande portão preto - E tinha uma mulher, a mãe dele, ela se chamava Agnes. 
- Minha querida, eu me chamo Constance e nunca nenhuma mulher chamada Agnes, nem um homem chamado Ricardo moraram aqui. Talvez tenha errado.
- Mas senhora - peguei o papel e coloquei na mão enrugada da senhora - leia, o endereço está certo. E veja, há o nome do menino no final.
- Não há nada aqui. Somente o nome da avenida. Mais nada!
- Impossível - Peguei o papel novamente e olhei para ele. De fato não havia nada ali, somente o nome da avenida e mais nada. Fitei o papel por mais alguns segundos e então falei por fim. - Me desculpe senhora, acho que realmente me equivoquei.


Dando as costas para a senhora com pijama sai correndo para os portões centrais da avenida e sai na rua principal. Eu só queria chegar em casa. A cada passo dado era uma olhada dada também no papel. Era impossível, a poucos minutos estava tudo ali. O endereço completo, o recado, a assinatura de Ricardo no fim. Estaria eu louca? Será que a noite anterior fora só um sonho e nunca aquilo teria acontecido de verdade? Essa possibilidade era ainda mais improvável ainda.
Chegando em meu quarto retirei os sapatos nos quais joguei para um canto junto com minha pequena bolsa de contas na qual só havia o troco da suco comprado no parque.
Me deitei em minha cama enterrando minha cabeça nos travesseiros que cobriam toda a extensão. Chorei por diversos minutos, e então senti um vento quente cortar minhas costas. Levantei dos travesseiros e olhei a janela, mas esta estava fechada e então, em cima da minha mesa havia uma pena, branca como a neve no inverno europeu, perfeita e na ponta um pequeno pedaço de papel amassado com somente uma palavra. 
"Desculpe"

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Soundtrack CAP VI
Playing Favorites - The Starting Line
Never Too Late - Three Days Grace
I'm With You - Avril Lavigne



 Be yourself, be original
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terça-feira, 27 de abril de 2010

CAPÍTULO V - Partida



  



É... Vamos com calma Alice.

Me afastei dele rapidamente um pouco constrangida. Não sei, mas ele pareceu não ter gostado muito do nosso beijo. Agora eu podia ver mais claramente toda a sala, o brilho dos móveis novamente ofuscou um pouco minha visão, a mãe dele voltara da cozinha com uma expressão tão séria que eu podia jurar que beirava a raiva passou por nós como se fôssemos estranhos. Meu constrangimento aumentou e então me encolhi de novo na grande poltrona de couro. Ricardo fitava os próprios pés com um ar preocupado. Vários minutos se passaram e eu não consegui mais suportar a situação.

- Então, acho que vou embora.
- Tudo bem - disse ele.

Levantei e peguei meu casaco que estava em um grande porta-chapéus também de madeira perto da porta. Pus meu casaco e quando virei minhas costas senti a mão quente dele cobrindo todo o meu ombro, deitei minha cabeça e fiquei lá por dois longos segundos. 

- Me desculpe - ele disse novamente - vá no parque amanhã.
- Tudo bem, eu vou tentar ir.

Com essa deixa abri a porta para o frio cortante que enchia toda a Av. Sherman Nunes. Desci a escada da varanda para a parte baixa que dava para o grande portão preto a minha frente, fechei-o olhando para a porta da casa dele, mas quando vi ele não estava mais lá. Minha mente estava cheia de perguntas, não entendi porque ele parou de me beijar quando tudo estava parecendo tão bom, e também o motivo da expressão da mãe dele, ela parecia ter visto nós nos beijando e não gostou nem um pouco. E como ela também passava essa impressão que sabia de tudo na minha vida como o Ricardo sem sequer me perguntar! Me senti envolvida em um mistério que talvez eu nunca soubesse deduzir. Eu tinha que ir ao parque, mas também tinha que me despedir de Fernando. Será que minha vida é um imenso jogo de xadrez e agora resolveram brincar comigo? 
Cheguei em casa e já se passava das 23:30. O tempo havia passado rápido de mais mas mesmo assim minha mãe não perguntou nada para mim e nem se quer deu queixa do horário. Estranhei mas ao mesmo tempo agradeci a ela por não fazer isso. No estado que eu me encontrava um briga com ela poderia ser equivalente a uma bomba atômica, e brigar agora era o que eu menos queria.

Entrei na sala para a aula de História e me sentei perto a janela como de costume. Ainda absolta em meus pensamentos pelo ocorrido da noite passada me peguei olhando para a janela mas eu só olhava, não estava nem prestando atenção nada. Foi então que notei que atrás de uma das árvores do pátio externo da escola estava um menino que eu conhecia, não só conhecia mas também havia beijado na última noite. Sim, era Ricardo. Só podia ser ele! A Profª Noele chamou meu nome na chamada e virei para responder rapidamente, mas quando olhei de novo para a janela ele não estava mais lá. Era como se tivesse sido engolido pelo chão; ou como se não estivesse estado lá. Mas eu o vi, eu sei que o vi.

Coloquei meus tênis debaixo da minha cama e fui para o banho, me arrumei pois sabia que Fernando poderia passar em minha casa a qualquer momento. Então, quando terminei de colocar a fita em meus cabelos ainda um pouco embaraçados a campainha tocou e eu desci para atender.

- Oi, Fernando.
- Oi Alice.
- Então... Já está pronto pelo que vejo.
- Sim, pronto e de passagens compradas.
- Que bom não é? França... dizem que lá é muito bonito!
- E é. Acho que vou voltar no fim do semestre. 
- Ah! Isso também é bom, final do semestre é legal.
Ele riu 

- Bom, passei mesmo para me despedir. Meu vôo sai daqui a meia hora.
- Tudo bem. Então... boa viagem.
- Obrigado. Se cuide ok?
- Estou me cuidando. - ri fracamente.

Ele se aproximou de mim mas dessa vez ele não tinha nenhum buquê de rosas na mão ou um cartão com um grande pedidos de desculpas. Ele segurava um anel, o anel mais lindo que eu já vira, prateado e com uma enorme pedra brilhante no centro selando as duas ponta da esfera. Ele pegou minha mão esquerda e em seguida meu dedo anelar e colocou o anel ali. Coube perfeitamente, como se estivesse sido feito sob medida para mim. Uma lágrima se formou no canto do meu olho mas eu tratei de retirá-la o mais rápido que pude antes dele perceber. Ele beijou a parte de cima da minha mão e olhou dentro dos meus olhos. 

- Isso é para você se lembrar de mim!
- É impossível não lembrar do que nunca se esqueceu!

Então ele beijou a minha testa e saiu, entrou no carro e acenou para mim de uma forma quase teatral. Não sabia se ia vê-lo de novo. Meus olhos queimaram e lágrimas mais grossas se formaram em meu lacrimal, mas dessa vez eu não tentei esconder, deixei elas rolarem pelo meu rosto caindo em meu vestido e deixando minha boca com um gosto salgado. Não sei por quanto tempo fiquei parada ali, talvez alguns minutos, talvez horas. Cai no asfalto duro e frio como quem cai de um penhasco muito alto e bate com as costas na água. Ele era tudo para mim dias atrás. Tudo o que eu queria, meu presente, passado e futuro, e agora se foi, e pode ser para nunca mais voltar! E eu não disse que eu o amava. E agora, mais do que nunca poderia ser tarde demais! Me arrependi de todos os beijos dado em Ricardo, mas no mesmo momento não me arrependia mais. Eu queria recomeçar, eu queria poder sorrir de novo. Mas não seria a mesma coisa sem Fernando. Onde está Ricardo agora? Depois de tudo o que aconteceu na noite anterior ele parecia constrangido demais para querer me ver de novo. Onde está Lux? Minha amiga desnaturada e escandalosa que me sempre me fazia bem com apenas duas palavras? 
Sequei as lágrimas que ainda insistiam em cair em meu rosto e então me levantei e fui a caminho do parque. Eu não queria decepções a mais naquele dia, eu queria ver o Ricardo e contar tudo para ele. Por mais que eu não soubesse se ele estaria me esperando lá, eu iria só para ter esperança.

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Soundtrack CAP V
Cold As You - Taylor Swift
Sunday, Bloond Sunday - Paramore (Cover)
The way I love you - Taylor Swift




Be yourself, be original
DON'T COPY! (:

domingo, 25 de abril de 2010

CAPÍTULO IV - O Beijo


  

Todos os pelos do meu corpo se eriçaram subindo do fim da minha coluna até a minha nuca e meus olhos começaram a arder novamente. Porém a reação não foi recíproca; ele me olhou com a expressão mais despreocupada do mundo, como se já soubesse que iria até ele, como se soubesse que eu iria ler o papel deixado no meu bolso; como se já soubesse o que ia acontecer! Ele sorriu para mim de uma forma sugestiva e abriu o grande portão preto pondo-se entre o arco e as grades imponentes. 


- Eu sabia que você viria.


Nossos olhares se cruzaram como uma melodia harmoniosa. "Pare de ser infantil e diga algo", pensei. 
Ele cobria toda a minha visão, eu só conseguia vê-lo. Como eu, uma pessoa sensata vai a casa de um cara que conheceu naquele mesmo dia? Eu só podia estar louca... E eu estava.


- E eu preciso de você! Me ajuda?
- Claro. Por isso coloquei o papel no seu bolso. Agora me diga, o que aconteceu?
- Lembra hoje tarde quando eu não quis dizer o que estava me fazendo mal?
- Lembro sim.
- Então... 


Passei mais de uma hora explicando a ele o que havia acontecido entre eu e Fernando. Contei sobre as flores, o cartão de término dentro das flores, o beijo na testa que ele me deu quando foi embora dizendo que não queria mais nada comigo, os dois dias de intensa tristeza que passei antes de conhece-lo, e a ligação de algumas horas atrás que fiz para ele só para saber o que ele queria me dizer. E por fim, o "Eu te amo" no fim da ligação que me fez ficar completamente pasma e confusa.
O vento começou a mudar quando terminei de contar tudo a ele. Meus pés estavam ficando gelados e meu nariz já começava a se avermelhar. Ele se desencostou de uma das partes do muro da sua casa e pegou a minha mão. Não sei dizer se foi de forma solidária por conta da história que contei ou porque ele quis mesmo ficar mais perto de mim. Senti a mão dele quente na minha acabando quase que imediatamente com o frio que sentia.


- Quer entrar?
- Eu? Hã... Ta bom.


Passamos pelo arco do portão e entramos em uma varanda com uma decoração linda. Entramos em uma sala muito bem mobiliada. O chão era de madeira e os móveis de um carvalho que exibia um brilho impecável! O cheiro de café que provavelmente vinha da cozinha me fez arfar, então ele me indicou uma poltrona de couro preto que estava perto de uma mesa com diversas revistas sobre jogos de videogames e quadrinhos, alguns nos quais eu nunca tinha ouvido falar mas pareciam ser legais. Ele percebendo minha distração com as revistas perguntou:


-Gosta de quadrinhos?
- Nunca tive a oportunidade de conhecer esse 'mundo'. Mas parecem ser legais.
- E como são! Mas agora o que importa é você. Bom, eu não sei o que dizer em relação ao... ao...
- Fernando. - ri nervosamente.
- Isso! Em relação ao Fernando... Se você o ama o tanto que dizer diga isso a ele, não esconda esse sentimento e nem deixe ele preso aqui com você sabendo que se quiser contar para ele um dia pode já ser tarde. 
- Entendo. Mas, não sei se falar com ele vai adiantar. Ele estava tão certo sobre o que queria quando terminamos. Não quero ficar mais confusa do que estou! E ele vai se mudar, amanhã! As vezes acho que devo deixa-lo ir. 


Ouvimos uma porta bater no final do corredor dos quadros e uma mulher vestida com um robe azul marinho veio em direção a nós com um enorme sorriso no rosto. Mais uma vez tive a impressão de que ela como Ricardo sabia do que estava acontecendo sem nem se quer perguntar e que também sabia que eu iria até lá.


- Alice, essa é minha mãe, Agnes. Mãe, essa é Alice, a menina que conheci no parque hoje a tarde.
- Ah querida. Prazer. Engraçado, ambas de nós temos nomes com a letra 'A'. Mas seu nome ainda é mais bonito que o meu. - me senti ruborizar
- Prazer em conhece-la também. Mas o nome da senhora é lindo! 
- 'Senhora' não, por favor, tenho quase a idade para ser sua irmã - e com uma linda risada ela saiu a caminho da cozinha sem dizer mais nada.


Ele se sentou mais perto de mim e olhou dentro dos meus olhos como se pudesse enxergar toda a minha alma. Senti o calor do seu corpo encontrar o meu e quando me vi eu já estava caída nos braços dele como se estivesse segura. Meus lábios esquentaram-se antes mesmo de tocar os deles e tive a maior epifania da minha vida. Senti o cheiro de tudo ao nosso redor. O cheiro do café que vinha da cozinha, da madeira dos móveis, do couro, do perfume dele, do cabelo... Me permitir viajar nas muitas milhas que meus pensamentos me deixavam ir. Eu não queria que acabasse, não podia acabar, estava intenso e bom foi como se eu estivesse beijando pela primeira vez. Quando abri os olhos e olhei para o rosto dele vi uma luz envolta de todo o corpo dele, parecia ilusão de ótica feita pelo efeito do tempo que fiquei de olhos fechados, mas a luz era algo anormal, não podia ser apenas isso. Ele era um anjo, só podia ser um anjo dos céus enviado para mim de uma forma súbita! Se fosse realmente isso eu estaria grata ao que havia acima de mim pelo resto da vida. Depois de muito olhar o rosto dele sem dizer mais nada me vi beijando-o novamente, cada vez mais intenso, cada vez melhor e a cada vez era perfeito.




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Soudtrack CAP IV
amanhã eu coloco *-*


Be Yourself
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sábado, 24 de abril de 2010

CAPÍTULO III - França



  

Senti meus olhos arderem. Um princípio de choro talvez, ou apenas uma aversão profunda ao nome dele. Ligar? Não ligar? Eu estava em um dos piores dilemas da semana depois do melhor dia da mesma. Frustrante, frustrante. Lembrei de tudo o que ele me fez passar alguns dias atrás. Ter a audácia de me mandar um buquê de flores com um cartão de término dentro! Foi como ganhar rosas, porém sem rosas, só os espinhos. Ter que encarar a dura e fria verdade me deixava com medo e ansiosa ao mesmo tempo. E se agora ele quisesse voltar? Se ele se arrependeu? Eu só queria que os questionamentos parassem, por no mínimo dez minutos. Eu precisava pensar, precisava determinar um ponto de partida a partir dali.
Meu celular estava no bolso e agora parecia pesar mil quilos. Peguei-o e olhei para a tela agora coberta por uma pintura abstrata que havia achado na internet dias atrás para por no lugar na minha foto com Fernando. Me lembrei de quando estava junto com ele, de quando o conheci, do nosso primeiro abraço, primeiro beijo. Era bom e ruim, porém os motivos eu não sabia explicar. Coloquei na parte de contatos, como hábito e lá estava na letra 'F' o nome e o telefone dele. Eu queria saber o que ele queria dizer, mas não queria ligar para ter que ouvir sua voz. 
'Send'... E o telefone começou a chamar.


- "Alô" - eu respirei fundo.
- Fernando? Oi, sou eu, Alice.
- Alice?! Nossa... Eu... é... eu não esperava que você ligasse de volta.
- Nem eu. O que queria dizer? - Fechei os olhos tentando manter o controle.
- Bom, eu... eu queria dizer que... que...
- Gaguejar agora não vai ajudar muito.
- Tudo bem, eu liguei porque queria te contar algo.
- Vá em frente, estou ouvindo.
- Eu vou me mudar.
- Ah, vai? Para onde? - encarei a janela como se fosse o rosto dele
- Vou para a França. 


Gelei, senti todos os meus membros ficarem dormentes, o mundo ao meu redor começou a girar mesmo eu estando parada. Não, ELE não. Por mais que ele tenha feito tudo o que fez eu ainda o amo. Meu olho se marejou em lágrinhas grossas e pesadas. Fiquei incapaz demais de mantê-las dentro do lacrimal. Respirei o mais fundo que pude.


- França? Nossa, isso é... legal. Não é?
- Não. Eu vou para estudar e não queria ir sem resolver as coisas aqui.
- Coisas? - eu já sabia a resposta, mas eu queria ouvir-lo dizer
- Não quero ir sem resolver as coisas entre eu e você.
- Pensei que já estivesse tudo resolvido, pensei que você já estivesse certo do que queria.
- Eu estou. Bom, pelo menos meu lado racional está, já o meu coração, pensa de forma diferente.
- Sobre isso eu não posso dizer nem aconselhar a nada.
- Eu sei que não, por isso estou assim. Tenho que desligar, vou terminar de fazer as malas.
- Mas você já vai viajar?
- Sim, amanhã a tarde. Posso passar ai e... me despedir?
- Hã... pode sim.
- Ta bom. Tchau. Ei! 
- Oi, pode falar.
- Eu te amo!
*tu...tu...tu...*


E então ele desligou. Com apenas um 'Eu te amo' ele desligou e agora ele também vai embora. Com um continente de distância de nós. Isso é tão injusto. Pela forma como ele falou, pelo jeito como foi nossa conversa, nós iríamos nos acertas, eu estou pronta a perdoar. Droga! Eu ainda o amo.
Me deitei na cama, meu rosto ainda molhado das lágrimas que derramei e derramava ainda. A voz de Fernando passava por minha cabeça como se fosse um gravador programado a repetir a mesma faixa diversas e diversas vezes. 'Eu te amo', 'Eu te amo'... E então, eu me lembrei, lembrei daquilo que tinha me feito feliz naquela mesma tarde. Me lembrei de Ricardo. Ricardo e seu sorriso encantador, seu all star surrado e lindo, seus cabelos sobre o vento. O mesmo que me fez rir por causa de um cachorro-quente, o mesmo que tinha me pedido para voltar ao parque no dia seguinte. Mas como eu iria voltar? Fernando ia vir aqui, se despedir de mim, e quando eu o visse, eu não sabia o que seria de mim. Talvez eu o abraçaria, ou somente o beijaria no rosto de longe, ou até mesmo nem chegasse perto. Eu tinha tantas escolhas para fazer, tanta coisa para poder colocar no lugar. E uma delas era a minha própria cabeça. Minha mente, meus pensamentos, meu centro de tudo.
Levantei e coloquei a mão nos bolsos como de costume. Então foi quando tirei e abri aquele minúsculo papel. Escrevia-se


Avenida Sherman Nunes - Nº 13
Sei que vai precisar de mim. Quando isso acontecer eu vou estar aqui.
Beijos, Ricardo.

Parei por cinco minutos olhando aquele endereço-recado escritos naquela folha. Ele devia ter posto o papel no meu bolso enquanto eu dei o beijo no rosto dele e depois ter pego a minha mão só para me distrair. 
Então foi por isso que ele disse que ainda tínhamos muito para conversar? Era impossível ele saber sobre o Fernando, muito menos saber do recado que ele havia deixado com minha mãe depois que me ligou a primeira vez.
Sem pensar peguei meu casaco velho que estava jogado em cima da cadeira, desci as escadas e disse a minha mãe que iria resolver algo na casa de uma amiga. Sai, caminhando na rua molhada pela chuva quase correndo. A Avenida Sherman Nunes não ficava muito longe da minha casa, eu passava lá uma vez por semana a dois anos atrás quando ainda estudava em uma escola secular do bairro. Eu chegaria lá em menos de quinze minutos.
Passando por vários comércios e até mesmo um bar com um monte de caras assistindo um jogo de algum esporte no qual eu não sabia descrever. Entrei na pequena avenida iluminada pelos grandes postes coloniais e procurei pelo número 13. Do lado direito encontrava-se os números pares e a esquerda os ímpares. Não caminhei muito até encontrar uma casinha de tijolinhos vermelhos iluminada por uma luz branca e muito forte que devia ser da sala de estar. A campainha de ferro preto estava ao lado do portão, olhei duas vezes até ter certeza do que queria e então toquei.
Um minuto depois apareceu ele, Ricardo, com uma blusa-azul-pijama um short peculiar e chinelos com meias. Se fosse outra pessoa para mim pareceria brega, mas nele era absurdamente lindo.


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Soundtrack CAP II
Tomorrow - Avril Lavigne
Lost Without You - Robin Thicke
Hallelujah - Paramore
My Heart - Paramore


Be yourself
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sexta-feira, 23 de abril de 2010

CAPÍTULO II - Chuva




  

Ele voltou com dois copos gigantes de refrigerante em um daqueles suportes de papelão branco para apoiar copos e um hiper-super-mega Hot-Dog encharcado de molho. Acho que um daqueles dava para alimentar umas três crianças famintas ou satisfazer uma pessoa bem fofa. 
Engraçado como quando achamos uma pessoa muito bonita tudo no mundo favorece para que a beleza dela se acentue. Ele por exemplo, a cada passo que dava o vento balançava o seu cabelo, o sol deixava seus olhos castanhos num mel incomparável. Sacudi minha cabeça como se eu tivesse levado uma pancada e me recompus a tempo de vê-lo chegar de forma sóbria. 


- Você não imagina o quanto esses caras do cachorro-quente podem ser chatos! Acredita que ele me fez pagar pelos saquinhos de ketchup e de mostarda! - ele sorriu para mim de forma como uma desculpa pelo seu desabafo
- Nossa, eles estão ficando mais pão-duros a cada dia!


Ele se sentou ao meu lado apoiando o suporte de copos em uma das partes vazias do banco e me ofereceu a primeira mordida no super-cachorro-quente. Dei uma mordida na ponta ainda tímida com toda aquela situação. Um filme de dois dias passou rápido pela minha cabeça me lembrando de que minha situação não era tão bonita quanto parecia.


- O que houve? O cachorro-quente ta ruim? Não, porque se estiver eu volto lá agora e ainda venho com uns 10 pacotes de ketchup! - eu sorri desconcertada
- Não é nada, é só uma dor de cabeça passageira.
- Quer comprar algum remédio?
- Não, está tudo sobre controle


Comemos e bebemos tudo em silêncio, parando as vezes para olhar o parque que agora estava ficando um pouco mais escuro pelo Sol que já ia embora. Depois da segunda mordida eu já estava satisfeita, e como dividimos não precisei comer demais. Eu me ajeitei no banco e recostando na parte dura e fria de concreto que cobria toda a estrutura. 


- Estive pensando - suspirei - será que quando alguém vai embora da sua vida ela pode voltar, mas de forma diferente? Melhor do que era antes?


Ele que estava com um grande pedaço do cachorro-quente na boca ainda pediu para eu esperar me fazendo rir e então falou:


- Voltar? Mas, como? Reencarnando?
- Não, vivo ainda, sem morrer! - eu dei uma curta risada deixando-o ruborizado
- Ah, isso eu já não sei. Depende, se a pessoa mudar, se ela quiser ser diferente. Vem da pessoa, a gente nunca pode saber ao certo.
- É verdade.
- Por que essa pergunta? - ela tomou o que restava do seu refrigerante e encostou ao meu lado no banco cinza de concreto. 
- Por nada, é que as vezes a gente sente que há esperança.
- Entendo. Ei! A propósito, qual é o seu nome?


Eu parei por alguns segundos e me dei conta que mesmo depois de vários minutos de conversa eu nem se quer sabia o nome dele! 


- Meu nome? Alice... Alice Colferai. E o seu?
- Ricardo. - e então ele sorriu.
- Então, Ricardo... Já está ficando tarde tenho que ir. 


Me levantei do banco me pondo de pé com pouquíssima rapidez, mas quando me dei conta ele estava segurando meu braço, me virei surpresa para encará-lo e ele sorriu... novamente.


- Fica aqui.
- Mas, eu não posso, eu tenho que ir.
- Eu fiz algo errado? Se eu fiz, desculpe.
- Não, você não fez nada de errado, eu só preciso ir. 
- Tudo bem, mas posso te pedir algo?


Ele se levantou e pôs sua mão na minha me fazendo gelar. Olhou nos meus olhos e sorriu novamente. O motivo pelo qual ele sempre sorria eu não sabia, a única coisa que eu tinha certeza é de que ele, e nada mais que ele ali naquele momento me fazia bem.


- Volte aqui, amanhã. Não sei porque mais acho que temos muito a conversar ainda.
- Sinceramente... eu também acho.- sorri, ruborizando novamente - Eu vou voltar. 
- Eu vou esperar.


Com um súbito o beijei levemente no rosto fechando os olhos e tentando sentir o cheiro no qual ele exalava, então me virei e soltei sua mão andando devagar e correndo ao mesmo tempo.
Não sei por quanto tempo andei e nem para onde estava indo. Passei por diversos quarteirões agora iluminados pelas luzes das casas vitorianas que enfeitavam de uma forma única toda aquela paisagem. A chuva caiu fria sobre meus ombros descobertos e pela primeira vez me senti livre. Fechei meus olhos e dancei com o vento que me envolvia, com o cheiro de terra molhada que tomava conta de mim, de cada parte do meu corpo, sem excessão. Lembrei de tudo o que aconteceu aquela tarde, do choro pouco antes de sair para o parque, dos velhinhos no banco, do Ricardo... Sim, do Ricardo, e de todo o seu conjunto rocker anos 80 e seu gosto por hot-dogs. Ele me pediu para voltar, será que eu deveria? Eu vou voltar! Eu sei que eu vou!
Sentei na calçada da minha rua agora totalmente molhada da chuva mais reveladora da minha vida e fechei os olhos mais uma vez. Em mim só haviam borboletas, o cheiro da terra molhada e uma liberdade que a muito tempo não sabia que existiam. 
Tirei os sapatos em frente a minha casa deixando-o no tapete de 'boas vindas' e entrei. O ar estava quente e cheirava a chocolate. Decidi subir primeiro para meu quanto antes de saber o que minha mãe estava aprontando. 
Meu quarto estava o mesmo de quando eu saí, exceto por uma coisa. Em cima da minha mesa do telefone havia um papel escrito: 




"Fernando ligou, pediu para retornar a ligação. Ps: Ele parecia estar chorando
Beijos, sua mãe."
Paralisei por alguns minutos e fixei os olhos no papel com a letra magra e irregular da minha mãe. Fernando ligou? Para quê? Por que? E o mais importante: O que ele queria dizer?


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Soundtrack Cap II:

Owl City - Fireflies
She is love - Parachute
Love Split Love - Please 
Mazzy Star - Into the Dust






Be Youself
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quinta-feira, 22 de abril de 2010

CAPÍTULO I - Estupefada.




  

Ninguém nunca me ensinou a lidar com isso. Perde-lo da forma mais brutal e abrupta, mas sou eu quem me sinto perdida. Eu sei que eu não devo sentir uma ponta de sentimento por ele; o que ele fez não se perdoa, mas mesmo assim eu estou pronta a perdoar. Mas será que ELE, o único ponto irresoluto da minha questão estaria disposto a tentar de novo? Minha mente se encontra em uma batalha de sistemas. O meu sentimental contra o meu racional e os dois contra ao maior amor que já senti na vida. Meu questionamento é: Porque ele fez isso comigo? Seria eu uma pessoa tão ruim para ele? Ou seria ele algo bom demais para mim? Eu não o fazia feliz? Foi por esse motivo que ele preferiu ir e me deixar aqui, só, somente com os meus questionamentos? 
Eu preciso sair, distrair minha mente se é que existe essa possibilidade em meio a essa Terceira Guerra no meio da minha vida. Acho que vou ao o CTI-EX (Centro de Tratamento Intensivo para Ex's - ou se você preferir, 'Parque da Cidade), talvez eu volte curada. Ou não.

- Ei, Ká, tudo bom? *entusiasmo*
- Tudo ótimo, como vai o namoro? *extrema raiva e frustração sobe pelo meu estômago*
- Namoro? Hã... Tá ÓTIMO! Tchau! *corre e finge que quer fazer xixi*
- Tchau

Odeio ter que mentir ainda mais por algo no qual eu nem queria lembrar. Porque tudo o que eu amo desaparece? Hen, hen?
Mas que droga. *som da caixa de entrada do celular*
Ser for ele, eu juro, eu juro, aaaaah mas eu juro que eu...
"Sinto sua falta."

Sente a minha falta? Como assim sente a minha falta? A dois dias atrás você não queria mais nada comigo e hoje me manda algo assim? Eu te odeio Fernando, eu te O-D-E-I-O.
Finalmente, o banco do CTI-EX. Barraquinha de Hot-Dogs, grama verde e fresca e um monte de gente como eu, que foi dispensada ou dispensou alguém também. Quem sabe encontro alguém legal para poder afogar meu sentimento imaturo em um desses enormes copos de Coca-Cola Zero e Hot-Dogs borbulhando molho, ketchup e mostada!
Percebi que entre o banco de concreto e o de madeira que ficavam no centro do parque havia um casal de velhinhos, lindos por sinal, que estavam de mãos dadas e sorriam alegremente um para o outro. Será que em pleno século XXI, nos quais as pessoas deveriam se amar mais, deveriam se comunicar mais, fazer tudo mais juntos, utilizar de tudo de bom para poder inovar não conseguem se amar como esses dois velhinhos sentados no banco do parque sendo que eles devem estar namorando desde a época da ditadura, onde se VER já era quase impossivel! Talvez naquela época, provava-se mais o amor de forma 'heróica' do que de forma física. Era tudo tão mais bonito, mais simples. Nunca encontrei ninguém que fizesse algum sentido a moda antiga na minha vida! E eu dei tudo, todo o meu amor, dedicação, TUDO para alguém que me deixou aqui. 

- Oi menina, posso me sentar aqui?

Eu fiquei estupefada por dois mil segundos! Aparece para mim uma das visões mais intrigantes que um ser humano pode ter. Alto, cabelo castanho, sorriso estranho, all star, polo amarela de listras brancas, e... Lindo!

- Hã... sentar, aqui? Claro.
- Então, porque você ta sozinha ai? 

Minha mente dizia mil coisas e não dizia nada ao mesmo tempo. Conto porque estou aqui de verdade, ou invento outra mentira qualquer só para não parecer uma solteira desvairada a procura de uma boca para beijar? 

- Só pensando... - pelo menos assim eu fiquei no meio termo.
- Pensando? Hm. Em que? - ah, que droga, ele me pegou de novo.
- Pensando na vida sabe... Nessas coisas...
- Pensar na vida é sempre bom. Só que dá uma nostalgia! - ele sorriu.
- Pois é. Nostalgia... Passado... Enfim, o que você faz aqui?

Ele parou e analisou o sol que ia se ponto atrás das árvores do parque, suspirou profundamente (ele ficava lindo quando fazia isso) e enfim falou...

- Sabe quando você acha que nada vale a pena mas de repente tudo muda e parece que tudo, exatamente TUDO faz sentido? - eu suspirei
- Na verdade? Não...Eu sempre achei que nada valia a pena, ainda mais depois que uma pessoa te mostra isso.
- Quem lhe mostrou isso?
- Ah, isso não vem ao caso. - ruborizei de uma forma na qual eu não podia esconder. 
- Não quer falar sobre isso não é? Eu entendo, quem sabe depois de uma duas Coca-Cola's super geladas hein?

Abri um sorriso enorme, bom perceber que ele me entendeu de primeira e viu que não queria forçar muito esse assunto. Sentei em um dos bancos enquanto ele seguia para a barraca de Hot-Dogs para comprar nossas latas de Coca-Cola.
Eu ainda me perguntava como ele por apenas poucos minutos me fez esquecer das coisas ruins que eu pensara por dois dias seguidos. Destino? Talvez sim... Talvez não. Mas eu quero pagar para ver!





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