domingo, 25 de abril de 2010

CAPÍTULO IV - O Beijo


  

Todos os pelos do meu corpo se eriçaram subindo do fim da minha coluna até a minha nuca e meus olhos começaram a arder novamente. Porém a reação não foi recíproca; ele me olhou com a expressão mais despreocupada do mundo, como se já soubesse que iria até ele, como se soubesse que eu iria ler o papel deixado no meu bolso; como se já soubesse o que ia acontecer! Ele sorriu para mim de uma forma sugestiva e abriu o grande portão preto pondo-se entre o arco e as grades imponentes. 


- Eu sabia que você viria.


Nossos olhares se cruzaram como uma melodia harmoniosa. "Pare de ser infantil e diga algo", pensei. 
Ele cobria toda a minha visão, eu só conseguia vê-lo. Como eu, uma pessoa sensata vai a casa de um cara que conheceu naquele mesmo dia? Eu só podia estar louca... E eu estava.


- E eu preciso de você! Me ajuda?
- Claro. Por isso coloquei o papel no seu bolso. Agora me diga, o que aconteceu?
- Lembra hoje tarde quando eu não quis dizer o que estava me fazendo mal?
- Lembro sim.
- Então... 


Passei mais de uma hora explicando a ele o que havia acontecido entre eu e Fernando. Contei sobre as flores, o cartão de término dentro das flores, o beijo na testa que ele me deu quando foi embora dizendo que não queria mais nada comigo, os dois dias de intensa tristeza que passei antes de conhece-lo, e a ligação de algumas horas atrás que fiz para ele só para saber o que ele queria me dizer. E por fim, o "Eu te amo" no fim da ligação que me fez ficar completamente pasma e confusa.
O vento começou a mudar quando terminei de contar tudo a ele. Meus pés estavam ficando gelados e meu nariz já começava a se avermelhar. Ele se desencostou de uma das partes do muro da sua casa e pegou a minha mão. Não sei dizer se foi de forma solidária por conta da história que contei ou porque ele quis mesmo ficar mais perto de mim. Senti a mão dele quente na minha acabando quase que imediatamente com o frio que sentia.


- Quer entrar?
- Eu? Hã... Ta bom.


Passamos pelo arco do portão e entramos em uma varanda com uma decoração linda. Entramos em uma sala muito bem mobiliada. O chão era de madeira e os móveis de um carvalho que exibia um brilho impecável! O cheiro de café que provavelmente vinha da cozinha me fez arfar, então ele me indicou uma poltrona de couro preto que estava perto de uma mesa com diversas revistas sobre jogos de videogames e quadrinhos, alguns nos quais eu nunca tinha ouvido falar mas pareciam ser legais. Ele percebendo minha distração com as revistas perguntou:


-Gosta de quadrinhos?
- Nunca tive a oportunidade de conhecer esse 'mundo'. Mas parecem ser legais.
- E como são! Mas agora o que importa é você. Bom, eu não sei o que dizer em relação ao... ao...
- Fernando. - ri nervosamente.
- Isso! Em relação ao Fernando... Se você o ama o tanto que dizer diga isso a ele, não esconda esse sentimento e nem deixe ele preso aqui com você sabendo que se quiser contar para ele um dia pode já ser tarde. 
- Entendo. Mas, não sei se falar com ele vai adiantar. Ele estava tão certo sobre o que queria quando terminamos. Não quero ficar mais confusa do que estou! E ele vai se mudar, amanhã! As vezes acho que devo deixa-lo ir. 


Ouvimos uma porta bater no final do corredor dos quadros e uma mulher vestida com um robe azul marinho veio em direção a nós com um enorme sorriso no rosto. Mais uma vez tive a impressão de que ela como Ricardo sabia do que estava acontecendo sem nem se quer perguntar e que também sabia que eu iria até lá.


- Alice, essa é minha mãe, Agnes. Mãe, essa é Alice, a menina que conheci no parque hoje a tarde.
- Ah querida. Prazer. Engraçado, ambas de nós temos nomes com a letra 'A'. Mas seu nome ainda é mais bonito que o meu. - me senti ruborizar
- Prazer em conhece-la também. Mas o nome da senhora é lindo! 
- 'Senhora' não, por favor, tenho quase a idade para ser sua irmã - e com uma linda risada ela saiu a caminho da cozinha sem dizer mais nada.


Ele se sentou mais perto de mim e olhou dentro dos meus olhos como se pudesse enxergar toda a minha alma. Senti o calor do seu corpo encontrar o meu e quando me vi eu já estava caída nos braços dele como se estivesse segura. Meus lábios esquentaram-se antes mesmo de tocar os deles e tive a maior epifania da minha vida. Senti o cheiro de tudo ao nosso redor. O cheiro do café que vinha da cozinha, da madeira dos móveis, do couro, do perfume dele, do cabelo... Me permitir viajar nas muitas milhas que meus pensamentos me deixavam ir. Eu não queria que acabasse, não podia acabar, estava intenso e bom foi como se eu estivesse beijando pela primeira vez. Quando abri os olhos e olhei para o rosto dele vi uma luz envolta de todo o corpo dele, parecia ilusão de ótica feita pelo efeito do tempo que fiquei de olhos fechados, mas a luz era algo anormal, não podia ser apenas isso. Ele era um anjo, só podia ser um anjo dos céus enviado para mim de uma forma súbita! Se fosse realmente isso eu estaria grata ao que havia acima de mim pelo resto da vida. Depois de muito olhar o rosto dele sem dizer mais nada me vi beijando-o novamente, cada vez mais intenso, cada vez melhor e a cada vez era perfeito.




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Soudtrack CAP IV
amanhã eu coloco *-*


Be Yourself
Don't Copy

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